São requisitos para essa aula o conhecimento de:
Exemplos serão dados com base no sistema GNU/Linux e compiladores GCC, mas existem ferramentas equivalentes para Windows e demais sistemas operacionais. A IDE Visual Studio Code suporta a linguagem C++ tanto para Linux (nativamente) quanto para Windows (com a instalação do compilador MinGW).
Também é possível praticar diretamente em um navegador web com plataformas online: onlinegdb.com/online_c++_compiler. Neste caso, o aluno pode escolher o compilador de C ou da linguagem C++ (considerando padrão C++20).
Compreender a lógica da programação é a habilidade mais impor- tante para um programador! Com ela, você pode facilmente trocar de linguagem de programação, conhecendo apenas alguns comandos básicos.
O primeiro conceito a ser revisado é de variável. Uma variável consiste de um identificador válido (mesmo para Python) e armazena algum tipo de dado da memória do computador.
A linguagem C/C++ é fortemente tipada, portando o programador deve dizer explicitamente qual o tipo de dado deseja armazenar em cada variável.
int x = 5; // armazena o inteiro 5 na variável x
char y = 'A'; // armazena o caractere 'A' na variável y
float z = 3.7 ; // armazena o real 3.7 na variável z
Pergunta/Resposta: Cuidado com tipos. Quais são os valores armazenados nas variáveis abaixo (C++)?
```{.cpp .listing} int x1 = 5; // => 5 int x2 = x1 + 10; // => 15 int x3 = x2 / 2; // => 7 float x4 = x2 / 2; // => 7.0 float x5 = x2 / 2.0; // => 7.5 auto x6 = 15; // => 15 (C warning: Wimplicit-int) auto x7 = x2 / 2; // => ? (C warning: Wimplicit-int) auto x8 = x2 / 2.0; // => ? (C warning: Wimplicit-int)
Verifiquem essas operações de variáveis, escrevendo na saída padrão (tela do computador).
-------
## Conceitos de C/C++ (tipos definidos)
Tipos primitivos em C/C++ tem um tamanho definido,
então é uma boa prática utilizar tamanhos fixos.
Dê preferência a inicialização direta com chaves `{ }`,
ao invés de indireta por atribuição (`operator=`).
```.cpp
int64_t x2 {20}; // long (ou long long)
int32_t x1 {10}; // int
int16_t x3 {30}; // short
int8_t x4 {40}; // signed char
uint8_t x5 {50}; // unsigned char
std::byte b {60}; // unsigned char
Para imprimir na saída padrão utilizaremos o comando print
.
Em C, tipicamente é utilizado o comando printf
, mas devido a
inúmeras falhas de segurança, é recomendado o uso de uma alternativa mais segura.
Somente o C++23 traz oficialmente o header <print>
com método oficial std::print
.
Então podemos utilizar o comando fmt::print
, da biblioteca <fmt/core.h>
,
ao invés do std::print
, ainda indisponível no C++20.
#include <fmt/core.h>
using fmt::print;
int main() {
print("olá mundo!\n");
return 0;
}
Tomando vantagem do padrão C++20 com o header <format>
é possível implementar uma versão simplificada do print
,
sem depender de bibliotecas externas como fmt::print
.
Veja uma possível solução utilizando macros de C (tome cuidado
com possíveis efeitos indesejados de macros!):
#include <format>
// Solution using __VA_ARGS__ and VA_OPT (## from c++20)
#define print(fmt, ...) \
printf("%s", std::format(fmt, ##__VA_ARGS__).c_str())
int main() {
print("olá mundo!\n");
return 0;
}
Para imprimir na saída padrão utilizaremos o comando print
. Este
comando é dividido em duas partes, sendo que na primeira colocamos
a mensagem formatada e, a seguir, colocamos as variáveis cujo
conteúdo será impresso.
Pergunta: como podemos misturar um texto (também chamado de cadeia de caracteres ou string) com o conteúdo de variáveis?
. . .
Resposta: através do padrão de substituição {}
.
int32_t x1 = 7;
print("x1 é {}", x1); // x1 é 7
float x6 = x1 / 2.0;
print("metade de {} é {}", x1, x6); // metade de 7 é 3.5
char b = 'L';
print("isto é uma {}etra", b); // isto é uma Letra
print("Olá mundo! \n"); // Olá mundo! (quebra de linha)
Problema: dados x
e y
, imprima o maior valor.
. . .
Condicionais podem ser feitos através dos comandos if ou if else.
int x = 15;
int y = 12;
if (x > y)
print("x é maior que y\n");
else
print("x menor ou igual a y\n");
Laços de repetição podem ser feitos através de comandos while ou for. Um comando for é dividido em três partes: inicialização, condição de continuação e incremento.
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
for (auto i=0; i < 10 ; i++) {
print("i : {}\n" , i);
}
:::::
::::: {.column width=45%}
auto j=0;
while (j < 10) {
print("j : {}\n", j);
j++;
}
:::::
:::::::::::::
Além dos tipos primitivos apresentados anteriormente (int, float, char, …), a linguagem C/C++ nos permite criar tipos compostos. Tarefa: estude demais tipos primitivos como double e long long, bem como os modificadores unsigned, signed, short e long.
Os tipos compostos podem ser vetores (arrays) ou agregados (structs, …).
. . .
int32_t v[8]; // cria um vetor com 8 inteiros
v[0] = 3; // atribui o valor 3 à primeira posição
v[7] = 5; // atribui o valor 5 à última posição
v: | 3 | | | | | | | 5 |
0 1 2 3 4 5 6 7
break
e continue
Controles de fluxo em laços de repetição podem ser efetuados com break
e continue
.
O break
finaliza a execução do laço e o continue
recomeça o laço.
Problema: Dado um vetor B, encontre o primeiro/último valor negativo, ou imprima -1 caso não exista.
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
int B[] = {4, -3, 5, -7, 8};
int i = 0;
int z = -1;
for (auto i=0; i < 5; i++)
if (B[i] < 0) {
z = i;
break;
}
print("z={}\n", z);
// z==1
:::::
::::: {.column width=45%}
int B[] = {4, -3, 5, -7, 8};
int i = 0;
int z = -1;
for (auto i=0; i < 5; i++){
if (B[i] >= 0)
continue;
z = i;
}
print("z={}\n", z);
// z==3
:::::
:::::::::::::
goto
Saltos incondicionais no código podem ser feitos com goto label;
e label:
.
Uma aplicação usual é a “quebra múltipla” de laços de repetição.
Evite ao máximo o uso de goto
e, sempre que for possível, prefira alternativas estruturadas
como for
, while
, if
, else
, break
, etc.
Contabilize quantos prints são executados (variável z
):
int z = 0;
for (auto i = 0; i < 10; i++) {
if (i < 5) continue; int j = i;
while (j < 10) {
if (i > 6) goto fim;
print("z={} i={} j={}\n", z, i, j); z++; j++;
}
}
fim:
// z==9: i=5 j=5..9 [5 passos]; i=6 j=6..9 [4 passos]
print("final z={}\n", z);
Comparação C/C++ (lembre-se de usar struct ou class/public:, caso contrário não será reconhecido como um tipo agregado, mas sim um objeto, que funciona de forma completamente diferente na linguagem C++):
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
// Em C (tipo agregado P)
struct P
{
int32_t x;
char y;
};
// declara variável tipo P
struct P p1;
// designated initializers
struct P p2 = {.x=10, .y='Y'};
:::::
::::: {.column width=45%}
// Em C++ (tipo agregado P)
class P
{
public:
int32_t x;
char y;
};
// declara variável tipo P
P p1;
// designated initializers
auto p2 = P{.x=10, .y='Y'};
:::::
:::::::::::::
Retomamos o exemplo da estrutura P anterior e nos perguntamos, como acessar as variáveis internas do agregado P?
Assim como na inicialização designada, podemos utilizar o operador ponto (.) para acessar campos do agregado.
Exemplo:
auto p1 = P{.y = 'A'};
p1.x = 20; // atribui 20 à variável x de p1
p1.x = p1.x + 1; // incrementa a variável x de p1
print("{} {}\n", p1.x, p1.y); // imprime '21 A'
p1: | 21 | 'A' |
p1.x p1.y
Todas variáveis de um programa ocupam determinado espaço na memória principal do computador. Assumiremos que o tipo int (ou float) ocupa 4 bytes, enquanto um char ocupa apenas 1 byte.
No caso de vetores, o espaço ocupado na memória é multiplicado pelo número de elementos. Vamos calcular o espaço das variáveis:
int32_t v[256]; // = 1024 bytes = 1 kibibyte = 1 KiB
char x[1000]; // = 1000 bytes = 1 kilobyte = 1 kB
float y[5]; // = 20 bytes
Já nos agregados, assumimos o espaço ocupado como a soma de suas variáveis internas (embora na prática o tamanho possa ser ligeiramente superior, devido a alinhamentos de memória).
C++ permite a definição de tipos genéricos, ou seja, tipos que permitem que algum outro tipo seja passado como parâmetro.
Consideremos o agregado P que carrega um int e um char… como transformá-lo em um agregado genérico em relação à variável x?
template<typename T>
class G
{
public:
T x; // qual o tipo da variável x?
char y;
};
// declara o agregado genérico G
G<float> g1 = {.x = 3.14, .y = 'Y'};
G<int> g2 = {.x = 3, .y = 'Y'};
Em C/C+, podemos definir um valor como constante,
através da palavra const
.
Uma mudança de tipos pode ser feita com type cast.
Em C++, utilize static_cast<tipo>
ao invés do padrão C de cast.
unsigned int x = 10;
int y1 = (int) x; // em C
int y2 = int(x); // em C
int y3 = static_cast<int>(x); // em C++
const unsigned int z1 = x; // OK
// unsigned int z2 = z1; // ERRO
O const
pode ser removido em algumas circustâncias através de um const_cast
.
Em C++, existe também o constexpr
, que diferentemente do const
,
nunca pode ser removido, pois é de tempo de compilação.
Em C, algo similar é possível com macros, mas permite reescrita, sendo inseguro.
#define k1 10 // C (inseguro e permite redefinição)
constexpr int k2 = 10; // C++ (seguro, impossível redefinir)
std::string
na STLO tipo std::string
representa cadeias de caracteres, chamadas de strings.
Ela substitui a necessidade de char*
, char[]
ou const char*
em C.
Para utilizar, basta fazer #include <string>
. Exemplo:
std::string s1 = "abcd";
std::string s2 = "ef";
print("tamanho1={} tamanho2={}\n", s1.length(), s2.length());
// tamanho1=4 tamanho2=2
s1 = s1 + s2;
print("s1={} s2={}\n", s1, s2);
// s1=abcdef s2=ef
const char* cs = s1.c_str();
print("s1={} cs={}\n", s1, cs);
// s1=abcdef cs=abcdef
std::vector
na STLA popular estrutura std::vector<tipo>
permite representar vetores
com tamanho variável (através do método push_back
).
Para utilizar, basta fazer #include <vector>
. Exemplo:
int v1[10];
int v2[] = {1, 2, 3, 4};
std::vector<int> k1{};
std::vector<int> k2 = {1, 2, 3, 4};
k2.push_back(999);
//
print("v[0]={} v[3]={} tam={}\n", v2[0], v2[3],
sizeof(v2) / sizeof(v2[0]));
// v[0]=1 v[3]=4 tam=4
print("k[0]={} k[4]={} tam={}\n", k2[0], k2[4], k2.size());
// k[0]=1 k[4]=999 tam=5
print("{}\n", std::is_aggregate<std::vector<int>>::value);
// false
Até agora, verificamos as seguinte estruturas:
A modularização de programas é muito importante, principalmente quando trechos de código são repetidos muitas vezes.
Nesses casos, é comum criar rotinas, como funções e procedimentos, que podem por sua vez receber parâmetros.
Tomemos por exemplo a função quadrado que retorna o valor passado elevado ao quadrado.
// função que retorna um 'int', com parâmetro 'p'
int quadrado (int p) {
return p*p;
}
// variável do tipo 'int', com valor 25
int x = quadrado(5);
Quando nenhum valor é retornado (em um procedimento), utilizamos
a palavra-chave void
. Procedimentos são úteis mesmo quando nenhum valor é retornado. Exemplo: (de a até b):
void imprime (int a, int b) {
for (auto i=a ; i<b ; i++)
print("{}\n", i) ;
}
Também é possível retornar múltiplos elementos (par ou tupla), através de um structured binding (requer #include<tuple>
):
auto duplo(int p) {
return std::make_tuple(p+3, p+6);
}
auto [x1,x2] = duplo(10); // x1=13 x2=16
Os parâmetros são sempre copiados (em C) ao serem passados para uma função ou procedimento. Como passar tipos complexos (estruturas e vetores de muitos elementos) sem perder tempo?
Nestes casos, a linguagem C oferece um tipo especial denominado
ponteiro.
A sintaxe do ponteiro simplesmente inclui um asterisco (*)
após o tipo da variável. Exemplos: int* x; struct P* p1
;
Um ponteiro simplesmente armazena o local (endereço) onde determinada variável está armazenada na memória (basicamente, um número). Então quando um ponteiro é passado como parâmetro, a cópia do ponteiro pode ser utilizada para encontrar na memória a estrutura desejada.
O tamanho do ponteiro varia de acordo com a arquitetura, mas para endereçar 64-bits, ele ocupa 8 bytes.
Em ponteiros para agregados, o operador de acesso (.) é substituído por uma seta (->). O operador &
toma o endereço da variável:
class P {
public:
int32_t x; char y; // mais alguma coisa gigante aqui?
};
// ...
P p0 = {.x = 20, .y = 'Y'};
Testando procedimentos f
e g
:
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=50%}
void f(P* p1) {
print("{}\n", p1->x);
p1->x = 1;
}
f(&p0);
print("{}\n", p0.x); // 1
:::::
::::: {.column width=50%}
void g(P p2) {
print("{}\n", p2.x);
p2.x = 1;
}
g(p0);
print("{}\n", p0.x); // 20
:::::
:::::::::::::
Programas frequentemente necessitam de alocar mais memória para uso, o que é armazenado de forma segura em um ponteiro para o tipo da memória:
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
// Aloca (C) o agregado P
struct P* vp =
malloc(1*sizeof(struct P));
// inicializa campos de P
vp->x = 10;
vp->y = 'Y';
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp->x);
// descarta a memória
free(vp);
:::::
::::: {.column width=45%}
// Aloca (C++) o agregado P
auto* vp = new P{
.x = 10,
.y = 'Y'
};
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp->x);
// descarta a memória
delete vp;
:::::
:::::::::::::
O tipo de uma função é basicamente um ponteiro (endereço) da localização desta função na memória do computador. Por exemplo:
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
// tipo: int(*)(int)
int quadrado(int p) {
return p*p;
}
:::::
::::: {.column width=45%}
// tipo: float(*)(int)
auto fquad(int p) -> float{
return p*p;
}
:::::
:::::::::::::
Este fato pode ser útil para receber funções como parâmetro, bem como armazenar funções anônimas (lambdas):
// armazena lambda no ponteiro de função 'quad'
int(*quad)(int) = [](int p) -> int {
return p*p;
};
print("{}\n", quad(3)); // 9
// ou, utilizando 'auto' para deduzir o tipo
auto func = [](int p) { return p*p; };
A linguagem C++ permite a inclusão de funções e variáveis dentro de agregados (em C, funções devem ser externas). Para acessar campos do agregado de dentro dessas funções, utilize o ponteiro para o agregado, chamado this:
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=50%}
// Em C (tipo agregado Z)
struct Z {
int x;
};
// imprime x negativo
void neg(struct Z* this)
{
print("{}\n",
-1*(this->x));
}
:::::
::::: {.column width=50%}
// Em C++ (tipo agregado Z)
class Z {
public:
int x;
// imprime x negativo
void neg() {
print("{}\n",
-1*(this->x));
}
};
:::::
:::::::::::::
std::optional
na STLO std::optional<tipo>
representa um valor opcional,
com alocação em stack, não em heap como smart pointers.
Para utilizar, basta fazer #include <optional>
. Exemplo:
std::optional<int> busca(char c, const std::vector<char>& v) {
// busca char 'c' num vetor v e retorna posição
for(int i=0; i<static_cast<int>(v.size()); i++)
if(v[i] == c)
return i; // encontrou
// não encontrou
return std::nullopt;
}
// ...
std::vector<char> v = {'a', 'b', 'c'};
auto op = busca('x', v);
if(op) print("posicao={}", *op);
else print("não encontrou");
C++20 traz a possibilidade de definir conceitos (ou concepts). Esse recurso permite definições genéricas sobre algum tipo (inclusive tipos agregados com funções internas).
Por exemplo, podemos criar um conceito TemNegativo
, que exige que o agregado possua um método neg()
:
template <typename Agregado>
concept TemNegativo = requires(Agregado a) {
{ a.neg() };
};
Assim, podemos utilizar um conceito mais específico ao invés de um tipo automático:
auto a1 = Z{.x = 1}; // tipo automático
TemNegativo auto a2 = Z{.x = 2}; // tipo conceitual
Z a3 = Z{.x = 3}; // tipo explícito
Importante: a noção de conceitos é fundamental para a compreensão de tipos abstratos, central no curso de estruturas de dados.
Ponteiros são estruturas reconhecidamente problemáticas, portanto desde a revisão C++11 é recomendado que se use ponteiros inteligentes (ou smart pointers) ao invés de ponteiros nativos.
Existem dois tipos de smart pointers: unique_ptr
e shared_ptr
.
Ambos evitam que o usuário precise de desalocar memória (com exceção de estruturas cíclicas, a serem abordadas no futuro).
Para utilizá-los, basta incluir o cabeçalho <memory>
, e substituir o new
por std::make_unique
ou std::make_shared
.
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=50%}
// Aloca (C++) agregado P
auto* vp = new P{
.x = 10,
.y = 'Y'
};
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp->x);
// descarta a memória
delete vp;
:::::
::::: {.column width=50%}
// Aloca (C++) agregado P
auto vp = std::make_unique<P>(
P{.x = 10, .y = 'Y'});
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp->x);
// descarta a memória
// delete vp;
:::::
:::::::::::::
Ponteiros podem ser utilizados como marcadores de um espaço de memória inválido,
geralmente chamado de nulo.
Em C, a macro NULL
é geralmente definida como zero,
sendo então uma melhor prática usar o número zero diretamente ao invés de NULL
.
O condicional pode ser usado para verificar um ponteiro como booleano,
que é a opção mais segura.
Em C++, existe o std::nullptr
, que pode ser utilizado em situações específicas
(geralmente smart pointers), mas geralmente evite NULL
e std::nullptr
.
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
// Aloca (C++) o agregado P
auto* vp = new P{
.x = 10,
.y = 'Y'
};
if(vp) print("sucesso!\n");
if(!vp) print("falha!\n");
if(vp==NULL) print("falha!\n");
if(vp==0) print("falha!\n");
:::::
::::: {.column width=45%}
// Aloca (C++) o agregado P
auto vp =
std::make_unique<P>(
P{.x = 10, .y = 'Y'});
if(vp) print("sucesso!\n");
if(!vp) print("falha!\n");
// reseta manualmente
vp = std::nullptr;
:::::
:::::::::::::
Em C, só é possível passar variáveis por cópia, o que demanda uso de ponteiros para evitar cópias volumosas e desnecessárias.
Em C++, existem os conceitos de referência de lado esquerdo (&)
e referência de lado direito (&&)
. Em resumo, utilizamos um tipo&
para denotar uma referência a um dado vivo, e tipo&&
para uma referência a um dado prestes a morrer (ou dado em movimento).
Esse conceito é fundamental para lidar com unique_ptr
, pois eles não permitem cópias, sendo obrigatoriamente passados por referência.
Para transformar uma variável viva para uma variável em movimento, basta usar o comando std::move
.
auto p1 = std::make_unique<P>(P{.x = 10, .y = 'Y'});
print("{}\n", p1->x); // imprime x (valor 10)
auto p2 = std::move(p1);
if(!p1) print("p1 não existe mais!\n");
print("{}\n", p2->x); // imprime x (valor 10)
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
// C++
void imprimex(P* vp) {
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp->x);
}
// ...
auto p = P{
.x = 10,
.y = 'Y'
};
// cópia de ponteiro
imprimex(&p);
:::::
::::: {.column width=45%}
// C++
void imprimex(P& vp) {
// imprime x (valor 10)
print("{}\n", vp.x);
}
// ...
auto p = P{
.x = 10,
.y = 'Y'
};
// referência (lvalue)
imprimex(p);
:::::
:::::::::::::
Referências de lado esquerdo (lvalue) complementam referências de lado direito (rvalue). Observe:
::::::::::::: {.columns}
::::: {.column width=55%}
void teste1(int x) {
x = 10;
}
void teste2(int* x) {
*x = 10;
}
void teste3(int& x) {
x = 10;
}
void teste4(int&& x) {
x = 10;
}
:::::
::::: {.column width=45%}
int a = 20;
teste1(a); // a == 20
teste2(&a); // a <- 10
teste3(a); // a <- 10
// teste4(a); // ERRO
teste4(std::move(a)); // OK
// supostamente a <- 10
teste1(20); // OK
// teste2(20); // ERRO
// teste3(20); // ERRO
teste4(20); // OK
:::::
:::::::::::::
Observação: existe também a sintaxe const tipo&
que permite lifetime extension,
algo que não exploraremos nessa breve revisão.
std::unique_ptr
O std::unique_ptr<tipo>
representa um ponteiro único para o tipo
(como se fosse tipo*
).
Uma função útil é o get
, que retorna um ponteiro nativo C para o dado.
A função reset
apaga o ponteiro manualmente.
Para utilizar, basta fazer #include <memory>
. Exemplo:
auto* p1 = new int{10};
auto* p2 = p1;
print("*p1={} *p2={}\n", *p1, *p2);
// *p1=10 *p2=10
delete p1;
auto u1 = std::make_unique<int>(10);
auto u2 = std::move(u1);
auto* p3 = u2.get();
print("*u2={} *p3={}\n", *u2, *p3);
// *u2=10 *p3=10
u2.reset(); // apaga ponteiro u2 manualmente
A biblioteca padrão da linguagem tem componentes já testados e de uso comum,
resolvendo diversos problemas básicos de programação.
C++ possui implementações bastante importantes em sua biblioteca padrão, chamada STL.
Atualmente, é necessário utilizar #include<...>
para incluir esses componentes,
mas em um futuro próximo (C++23) será possível através de import std
,
utilizando a estrutura moderna dos CXX Modules.
Já vimos indiretamente o uso de algumas dessas estruturas no curso,
como: tuplas em std::make_tuple
; ponteiros inteligentes em std::make_unique
ou std::make_shared
; entre outras coisas.
Também vimos exemplos de estruturas muito fundamentais como: std::string
e std::vector
.
Geralmente, propostas são feitas pela comunidade, e boas implementações são incorporadas à biblioteca padrão, em revisões futuras da linguagem.
std::array
na STLAssim como vetores nativos, exemplo int[]
,
o agregado std::array<tipo, tamanho>
permite representar vetores
de tamanho fixo.
Para utilizar, basta fazer #include <array>
. Exemplo:
int v1[10];
int v2[] = {1, 2, 3, 4};
std::array<int, 10> a1{};
std::array<int, 4> a2 = {1, 2, 3, 4};
print("v[0]={} v[3]={} tam={}\n", v2[0], v2[3],
sizeof(v2) / sizeof(v2[0]));
// v[0]=1 v[3]=4 tam=4
print("a[0]={} a[3]={} tam={}\n", a2[0], a2[3], a2.size());
// a[0]=1 a[3]=4 tam=4
print("{} {} {}\n", std::is_aggregate<int*>::value,
std::is_aggregate<int[]>::value,
std::is_aggregate<std::array<int, 4>>::value);
// false true true
std::shared_ptr
O std::shared_ptr<tipo>
representa um ponteiro compartilhado para o tipo
(como se fosse tipo*
).
Uma função útil é o get
, que retorna um ponteiro nativo C para o dado.
A função reset
apaga o ponteiro manualmente.
O shared permite cópias e compartilhamento, através de reference counting.
Tome cuidado com ciclos, pois podem acarretar vazamento de memória!
Para isso, utilize std::weak_ptr
ou cycles::relation_ptr
(a seguir).
Para utilizar, basta fazer #include <memory>
. Exemplo:
auto s1 = std::make_shared<int>(10);
auto s2 = s1;
std::weak_ptr<int> w1 = s1;
auto s3 = w1.lock();
print("*s1={} *s2={} *s3={}\n", *s1, *s2, *s3);
// *s1=10 *s2=10 *s3=10
s1.reset(); // apaga ponteiro s1 manualmente
print("*s2={} *s3={} ainda existem!\n", *s2, *s3);
std::function
A estrutura std::function<tipo>
permite armazenar funções, seja ela uma lambda sem captura (captureless lambda) ou uma lambda de captura, também chamada de closure.
Uma captureless lambda pode decair para ponteiro de função, enquanto as demais só podem ser encapsuladas como std::function
.
Basta fazer #include <functional>
. Exemplo:
// captureless lambda
int(*fquad1)(int) = [](int p) -> int { return p*p; };
std::function<int(int)> fquad2 = [](int p) { return p*p; };
// capturando variável x (por cópia)
int x = 10;
int y = 20;
// closure x1 (retorna x + 1)
std::function<int()> x1 = [x]() { return x+1; };
// capturando todas variáveis locais com =, y por referência
std::function<int()> fxy = [=, &y]() { y++; return x+y; };
int z = fxy(); // z==31 y==21
std::scan
Assim como o std::print
(atualmente da fmt
), existem
propostas para um std::scan
, atualmente no projeto scnlib
de eliaskosunen
.
A proposta experimental para o C++26 se chama P1729 “Text Parsing”, e busca criar uma função scn::scan
que substitua a scanf
(pelo mesmo raciocínio empregado na abolição do printf
). Exemplo:
#include <scn/scn.h>
// lembre-se de incluir o pacote eliaskosunen/scnlib no CMake
using scn::scan;
// ...
int x = 0;
int y = 0;
auto resto = scan("10 20", "{}", x);
scan(resto, "{}", y);
print("x={} y={}", x, y);
// x=10 y=20
cycles::relation_ptr
Uma proposta de ponteiro inteligente para resolver casos cíclicos foi
criado pelo prof. Igor Machado Coelho, chamado cycles::relation_ptr
.
Este é um projeto interessante para compreender as
limitações dos ponteiros inteligentes atuais, e o que pode ser possivelmente
melhorado em um C++ futuro. Exemplo:
Para utilizar, basta fazer #include <cycles/relation_ptr>
. Exemplo:
using cycles::relation_pool;
using cycles::relation_ptr;
// veja instruções em: https://github.com/igormcoelho/cycles
relation_pool<> grupo;
auto r1 = grupo.make<int>(10);
auto r2 = std::move(r1);
print("*r2={}\n",*r2);
// *r2=10
r2.reset(); // apaga ponteiro r2 manualmente
Citamos o comitê diretor do C++, “DIRECTION FOR ISO C++” (2022-10-15), de H. Hinnant, R. Orr, B. Stroustrup, D. Vandevoorde, M. Wong (página 10):
C++ is seriously underrepresented in academia and often very poorly taught. It has been conventional to start teaching C++ by first introducing the lowest level and most error-prone facilities. Naturally, that discourages students and increases the time needed to get to what students consider meaningful computing (graphics, networking, mathematics, data analysis, etc.). Often, teachers even go to the extreme of insisting on using a C compiler. If the ultimate aim is to teach C++, that’s like insisting people start learning English by reading Beowulf or the Canterbury Tales in their original early-English language versions. Those are great books, but Early English is incomprehensible to most native Modern-English speakers.
Citamos o comitê diretor do C++, “DIRECTION FOR ISO C++” (2022-10-15), de H. Hinnant, R. Orr, B. Stroustrup, D. Vandevoorde, M. Wong (página 10):
In addition to the linguistic difficulties, such ancient sources present cultural conventions and idioms that seem very peculiar today. Instead of C, someone could teach Simula to prepare for learning C++. Why don’t people do that? Because the historical approach to teaching language (natural or programming language) complicates and detracts from the end goal: good code.
Why then do teachers use the C-first approach to teach C++? Part is tradition, curriculum inertia, and ignorance, but part of the reason is that C++ doesn’t offer a smooth path to idiomatic, proper, modern use of C++. It is hard to bypass both the traps of low-level constructs and the complexities of advanced features and teach programming and proper C++ usage from the start.
Em resumo: C++ moderno já é absolutamente superior a C em segurança e clareza, com desempenho equivalente, mas historicamente carece de boas estruturas para fazer o básico (como imprimir em tela, fazer vetores, etc), obrigando o uso de estruturas inseguras, como ponteiros.
Então, as revisões recentes tem buscado esse fim, de facilitar o uso básico (como std::print
, std::array
, std::string
, std::vector
, smart pointers, …) e evitar que a linguagem C seja necessária para a escrita de programas básicos.
Hoje (2023) ainda existem problemas, como:
fmt::print
e scn::scan
)#include
em um código básico: a ideia é que, a partir da implementação de import std
no C++23, será desnecessário incluir bibliotecas externas em códigos básicos :)
Muitos serão resolvidos na próxima edição do C++ (mas ainda faltará o scn::scan
), sempre de olho em bons concorrentes modernos como Rust.
Qualquer programa complexo necessita de divisão em partes, ou módulos, para maior controle e verificação da corretude das operações.
Nesse curso, vamos utilizar um padrão mínimo de modularização, para que seja possível efetuar testes no código (de forma sistemática).
Um programa começa pelo seu “ponto de entrada” (ou entrypoint), tipicamente uma função int main()
:
#include<iostream> // inclui arquivo externo
int main() {
return 0; // 0 significa: nenhum erro
}
A declaração de funções pode ser feita antes da definição:
int quadrado(int p); // declara a função 'quadrado'
int quadrado(int p) {
return p*p; // implementa a função 'quadrado'
}
Declarações vem em arquivos .h
, enquanto as respectivas implementações em arquivo .cpp
(ou juntas como .hpp
).
main.cpp
Quando utilizando o GCC e um entrypoint no arquivo main.cpp
:
Para compilar: g++ -fconcepts -O3 main.cpp -o appMain
Para executar código: ./appMain
Importante: consideramos um sistema GNU/Linux, mas caso seja Windows pode-se usar o compilador C/C++ MinGW e executar o aplicativo gerado com uma extensão .exe
(padrão executável Windows).
Modularização mínima: 4 arquivos.
main.cpp
(dica: colocar na pasta src/
)src/
)teste.cpp
(dica: colocar na pasta tests/
)makefile
do GNU (com regras all:
e test:
)Também é informativo um arquivo extra na raiz com explicações sobre o código (tipicamente README.md
na linguagem markdown)
Importante: o arquivo do entrypoint deverá conter exclusivamente a função int main()
(e seus respectivos #include
), para viabilizar testes de código.
Durante o curso estudaremos várias estruturas de dados, mas sempre que possível utilize as existentes na biblioteca padrão (STL). São “mais eficientes” e “à prova de erros”.
Por exemplo, é fácil definir um tipo agregado Par
, que comporta dois elementos internos (tipo genérico). Porém, é mais vantajoso usar o existente na STL, chamado std::pair
(o prefixo std::
é chamado namespace e evita colisões de nomes):
#include<iostream> // funções de entrada/saída
#include<tuple> // agregados de par e tupla
int main() {
std::pair<int, char> p {5, 'C'}; // direct init.
printf("%d %c\n", p.first, p.second); // 5 C
// ...
}
// Em C++ (tipo agregado Z)
class Z
{
public:
int x;
// imprime campo x
void imprimex() {
printf("%d\n", this->x);
}
};
template<typename Agregado>
concept bool
TemImprimeX = requires(Agregado a) {
{
a.imprimex()
}
};
assert
Durante o desenvolvimento, é útil verificar partes do código com testes simples e necessários para a corretude do mesmo (em tempo real).
Para isso, podemos utilizar o assert()
. Exemplo:
int x = 10;
x++;
assert(x == 11); // x deveria ser 11
Da mesma forma, podemos verificar tipos, especialmente conceitos, em tempo de compilação:
// verifica se tipo agregado Z tem método imprimex()
static_assert(TemImprimeX<Z>);
Uma forma prática de testar um código modularizado com main.cpp
separado do resto.hpp
, é utilizando a biblioteca Catch2.
Basta criar um arquivo de teste, por exemplo, teste.cpp
:
#include "resto.hpp"
#define CATCH_CONFIG_MAIN // catch2 main()
#include "catch.hpp"
TEST_CASE("Testa inicializacao do agregado Z")
{
auto z1 = Z{.x = 10};
// verifica se, de fato, z1.x vale 10
REQUIRE(z1.x == 10);
}
Para baixar o arquivo catch2.hpp
, basta acessar o site do projeto: github.com/catchorg/Catch2.
Link direto (Agosto 2020):
github.com/catchorg/Catch2/releases/download/v2.13.1/catch.hpp
Para compilar: g++ -fconcepts teste.cpp -o appTestes
Para executar testes: ./appTestes -d yes
0.000 s: Testa inicializacao do agregado Z
===============================================
All tests passed (1 assertion in 1 test case)
Importante: Recomenda-se a opção -fsanitize=address
e -g3
para evitar bugs durante o desenvolvimento usando GCC.
Nessa revisão sobre tipos, buscamos não aprofundar em nenhuma característica “avançada” de C/C++, embora alguns conceitos possam parecer novos. Tópicos recomendados (não cobertos no curso):
std::unique_ptr
e std::shared_ptr
(não requer delete
)Além da bibliografia do curso, recomendamos (para esse tópico):
Em especial, agradeço aos colegas que elaboraram bons materiais, como o prof. Fabiano Oliveira (IME-UERJ), e o prof. Jayme Szwarcfiter cujos conceitos formam o cerne desses slides.
Estendo os agradecimentos aos demais colegas que colaboraram com a elaboração do material do curso de Pesquisa Operacional, que abriu caminho para verificação prática dessa tecnologia de slides.
Esse material de curso só é possível graças aos inúmeros projetos de código-aberto que são necessários a ele, incluindo:
Agradecimento especial a empresas que suportam projetos livres envolvidos nesse curso:
Esses slides foram escritos utilizando pandoc, segundo o tutorial ilectures:
Exceto expressamente mencionado (com as devidas ressalvas ao material cedido por colegas), a licença será Creative Commons.
Licença: CC-BY 4.0 2020
Igor Machado Coelho